Article
0 comment

Danycan, um testemunho da ofensiva dos navegadores franceses
Patrick Lamache

Coupe des Deux Phares 2017. Foto: N. Dickès

Patrimônio marítimo: prefácio de Gérard Wormser

Encontrei Patrick Lamache de maneira fortuita durante o festival marítimo de Camaret-sur-Mer (Bretanha), em agosto de 2022. Proprietário de um belo RORC Classe III assinado por Eugène Cornu1Eugène Cornu (1903-1987) é arquiteto naval e marinheiro francês. Desenhista talentoso, ele projetou vários navios e regatas durante a Segunda Guerra Mundial, mas continua famoso por seus veleiros, como o Licorne e o Belouga., batizado de Danycan e lançado ao mar em Marselha, em 1949, ele foi responsável pela restauração e a classificação de seu veleiro como monumento histórico, além de ter realizado uma vasta pesquisa documental que deu origem ao livro intitulado Danycan, témoin sauvegardé de l’offensive des navigateurs français (Lamache, 2022). A história desse pequeno veleiro de cruzeiro oceânico, desde seu lançamento, tem como pano de fundo o avanço dos iatistas franceses que desafiaram a hegemonia inglesa nas regatas oceânicas. Cerca de quarenta armadores fizeram parte desse movimento, incluindo Michel de Rosanbo, segundo capitão do barco, bem como seus amigos e tripulantes, incluindo um jovem talentoso e promissor chamado Tabarly. Planos, recortes de imprensa e prêmios são intercalados com considerações pessoais sobre o processo de classificação do barco como monumento histórico, a experiência do autor com o iatismo clássico e seu testemunho sobre o trabalho de restauração exemplar realizado por ele. Um anexo com os resultados dos franceses na RORC do pós-guerra, até 1963, e sobre os 300 iates que cruzaram o caminho do Danycan completa esse trabalho extremamente bem documentado e referenciado.

Guardado durante três anos, período em que seu proprietário se instalou no Brasil (São Paulo), o Danycan infelizmente não pôde participar das jornadas do patrimônio. A meu pedido, Patrick Lamache concordou em escrever para nossos leitores e assinantes.

Gérard Wormser

Danycan, saveiro das Bermudas, 1949-2019: o destino de um RORC Classe III

Um pequeno iate que poderia ter desaparecido

Durante o verão de 2008, ainda proprietário de meu Marauder, meu objetivo era adquirir outro plano Herbulot para reformar: um Cap Corse ou, de preferência, um Cap Horn, que conheci através de Jean Lacombe…

Embora a razão me levasse a seguir minha primeira inspiração, caí no feitiço dos magníficos élancements2N.T: Parte do casco não submersa, da linha d’água até a extremidade da haste ou da linha d’água traseira até a extremidade da popa. Fonte. do Danycan, que na época estava em processo de decomposição, às margens do rio Morlaix, nos estaleiros Jézéquel.

Negligenciado ao longo de muitas temporadas, há mais de vinte e cinco anos sem ser lançado ao mar e praticamente esquecido desde a década de 1960, o Danycan chegou ao meu conhecimento durante minha extensa pesquisa nos estaleiros do Grand Ouest3N.T: Grand Ouest é uma região da França que abrange a Bretanha e o País de Loire..

Além de suas belas linhas, eu não conhecia mais nada sobre sua história, no momento da compra, em dezembro de 2008. Durante o trabalho de restauração, no ano seguinte, descobri os primeiros elementos da história desse clássico, graças a um artigo de G. Auzepy-Brenneur publicado no início de 2009, na revista Chasse-Marée, e às extensas pesquisas que se seguiram.

Regata Voiles de la Citadelle, 2014. Foto : Alain Milbéo

O cruiser-racer e sua tripulação

Um saveiro das Bermudas, plano Cornu de 24 pés de comprimento da linha d’água e de 2,48 m de boca, ele possui mais de 29% d’élancement e comporta uma “canoa traseira”. É de construção relativamente leve, projetado para navegação costeira ou regatas em águas abertas. O estaleiro Pierre Delmez Constructions Nautiques, em Le Perreux-sur-Marne, lançou o Danycan em 19 de julho de 1949. Provavelmente, o objetivo de Eugène Cornu ao projetar o Danycan era otimizar um RORC Classe III. De fato, o estaleiro Delmez era especializado na construção de embarcações leves. Em resumo, o que Cornu perdeu em termos de dimensionamento (baixa espessura das bordas, tamanho das longarinas e armações, ausência de serre de bouchain4N.T: Placas longitudinais no nível do casco que unem as partes superior e inferior. Fonte. e de mesa naútica, uma única porta separando as seções de proa e popa, etc.), ele ganhou em redução de deslocamento. O arquiteto foi minucioso em termos de elegância e desempenho condicionando, de certa forma, a história desse pequeno iate clássico. A contribuição dos diferentes proprietários para o sucesso desse barco foi variável. Se há um nome a ser lembrado, é o do Conde de Rosanbo (o 4º de 12 proprietários), um iatista renomado na década de 1950, membro do Yacht Club de France, da Société des Régates Rochelaises e da Union Nationale des Croiseurs. É preciso ressaltar que o General Chaigneau e o Comodoro Pillorget também foram proprietários do Danycan.

Trecho de La Rivière — La revue du canoë club de France (abril 1947)

Chegada ao estaleiro da CMC – junho de 2009. Foto: P. Lamache

O Danycan no dia em que foi descoberto, em 2008, em Saint-Martin-des-Champs, no estaleiro A. Jézéquel. Foto: P. Lamache

Os vencedores e a história

“Danycan, um barco de prestígio” foi a manchete da revista Le Yacht do dia 18 de março de 1961. No período de 1954 a 1961, o desempenho desse veleiro foi respeitável. Ele venceu a Plymouth-La Rochelle, em 1957 com Guy Tabarly, enquanto iates de prestígio como Myth of Malham, Sea Scamp, Hallali, Jocasta, Cutty, Esquirol, Carentan e outros também faziam parte da frota. Ele ficou em 4º lugar na classificação RORC de 1960. Em seguida, ele apareceu com frequência nas capas de revistas como Bateaux e Les Cahiers du Yachting. O arquivo Beken, da cidade de Cowes, ainda guarda algumas fotografias desse veleiro.

Regata de La Rochelle, em 1957. Foto: J. Dupuy

O Danycan velejou e competiu com frequência ao lado de barcos bastante conhecidos e alguns deles ainda velejam ou participam de regatas. Além de suas belas linhas, esse antigo cruiser-racer tem um passado de prestígio, contribuindo para a ofensiva dos iatistas franceses contra a hegemonia anglo-saxônica nas regatas RORC, durante a década de 1950, coroada com a vitória de 1964. Além disso, antes de atingir a fama, o Danycan recebeu a bordo, no contexto das regatas, um homem que agora é considerado uma lenda da vela francesa, bem como seu pai, Guy Tabarly, membro leal da tripulação, de 1954 a 1961. Eric Tabarly afirma em seu livro Mes bateaux et moi (Tabarly e Campistron, 1974), publicado em 1976: “como os barcos de cruzeiro oceânico geralmente não tinham tripulação suficiente, meu pai e eu nos juntamos a bordo de nossos primeiros barcos de regata locais: Farewell, em La Trinité, e depois o Danycan de La Rochelle. Estávamos vivendo os primórdios das regatas de cruzeiro na França, uma era do aprendizado…” Algumas páginas depois ele declara: “Adeus… Danycan… Sem dúvidas, esses veleiros modernos me mostraram o oceano e a competição, mas eu seria injusto se não mencionasse o importante papel desempenhado pelo velho Pen Duick em minha vocação como piloto…”

Obras de conservação 2009-2016

Iniciada em 2009, no estaleiro Chantier des Charpentiers de Marine Camarétois, com a substituição de algumas peças vivas, a restauração continuou até 2013 com a ajuda da DRAC (Direction régionale des affaires culturelles) e das autoridades locais da Região da Bretanha, do Departamento de Finistère e da Comuna de Crozon (peças vivas, repotenciação, convés, cockpit e barrotes, cordame, velas, acessórios do convés, acessórios internos, retoques finais). O Danycan foi registrado como Monumento Histórico em 2011. O trabalho foi realizado por artesões da península de Crozon sob a supervisão de Jacques Pichavant, especialista do Ministério da Cultura. O arquiteto Georges Auzepy Brenneur também prestou grande apoio. Em 2016, com a permissão do DRAC, o estaleiro Guip foi contratado para substituir parte da estrutura axial da parte traseira, incluindo a popa, uma operação complexa que me permitiu dar os toques finais no restauro.

Renascimento em 2013 e navegações

O Danycan retorna às suas origens em abril de 2013. Desde que foi relançado, ele navegou entre 1.000 e 1.500 milhas por ano, principalmente como parte do Chllange Manche Atlantique, em que ficou em 4º lugar, em 2016. Ele venceu o Plymouth-La Rochelle em 2018, em uma homenagem ao sucesso no passado!

O Danycan comemorou seus 70 anos em 2019!

Em comemoração ao seu aniversário, eu tinha o desejo de publicar um livro que contasse não apenas a história desse iate e de sua tripulação, sua contribuição para a ascensão do iatismo francês no período pós-guerra, seu passado compartilhado com Pen Duick e a família Tabarly e o que aconteceu com os outros iates da época, mas sua restauração na península de Crozon e as primeiras temporadas após seu renascimento.

Grande prêmio de Brest 2016. Foto: K. A. Noutcha Pemamboh

Prólogo da Coupe des Deux Phares na Baía de Douarnenez, em 2017. Foto: P. Bigand

O Livro Danycan, témoin sauvegardé de l’offensive des navigateurs français

A gênese da história

Danycan é o único nome dado a um iate desde a início de seu projeto, cujos planos originais são mantidos no Trocadéro. Esse nome pertencente a armadores e corsários está impregnado de história, especialmente para o povo de Saint Malo. Tive a oportunidade de conhecer o Conde de Rosanbo e o armador que lhe sucedeu, Charles Pilorget, ex-comodoro da estação de Morbihan da SNSM (Société Nationale de Sauvetage en Mer) além de parente próximo de Jean Merrien, pouco antes de morrerem em suas casas, em Saumur e Vannes. Ele foi proprietário de um total de 60 barcos, incluindo o La Bandera e o Elfe. De Toulon, o General Chaigneau navegou para Creta e Sardenha. Como militar, ele é conhecido por sua atuação na Argélia e encerrou sua carreira como tenente-general. Um dos proprietários posteriores me confirmou que havia navegado com o barco da Côte d’Azur até Saint-Malo, passando por Gibraltar, enquanto o penúltimo comprador fez um cruzeiro até a Irlanda, na década de 1970.

A lenda de um veleiro também é escrita por sua tripulação. As vinte e cinco pessoas que identifiquei, incluindo praticamente todos os períodos, me deram a confiança necessária para estabelecer uma história confiável. Membros da tripulação por um dia, uma noite ou para sempre e até pessoas célebres embarcaram comigo.

Ancoradouro de Conleau, 1964. Foto: M. Briquet — arquivos C. Pilorget

Os diários de bordo da família Rosanbo disponibilizados para mim revelam dedicatórias de Costantini, construtor de veleiros, de Guy Des Cars, escritor, de John Illingworth, então capitão do Myth of Malham, de Claude Menu, proprietário do Marie-Christine, conhecido pelo povo de La Rochelle, e de outros marinheiros. Figuras célebres subiram a bordo: Guy Tabarly foi um membro leal da tripulação entre 1954 e 1960 e Éric Tabarly esteve a bordo entre 1954 e 1958, até voltar a navegar com o Pen Duick, a partir de 1959. Com efeito, após o êxito de dois de seus primeiros livros, em 1976 e 1977, Éric cita o Danycan como um dos barcos que o ajudaram em seu aprendizado.

Nossos dois iates foram inscritos nas mesmas regatas, com Guy e os irmãos Tabarly a bordo. O veleiro esteve frequentemente bem classificado em eventos nacionais entre La Rochelle e Brest. Nas competições da RORC (Royal Oceanic Racing Club), meu veleiro obteve excelentes resultados e venceu a Plymouth-La Rochelle, em 1957, ao lado de prestigiados barcos como Myth of Malham, Sea Scamp, Hallali, Jocasta, Cutty, Esquirol e Carentan. Alguns deles ainda competem no Challenge Classique Manche Atlantique.

Artigo publicado na revista Le Yacht , no dia 18 de março de 1961

Artigo publicado na revista Le Yacht , no dia 18 de março de 1961

Coletei uma grande quantidade de informações de diversos jornais diários e periódicos especializados da época (Western Morning News, Sud-Ouest, Le Télégramme, Le Yacht, Les Cahiers du Yachting, Bateaux…) ou de livros como os de F. Puget e de O. Le Carrer. Os dois antigos cartões postais que imortalizam o cruiser-racer lançam ainda mais luz sobre seus 70 anos de navegação. Desde sua descoberta em agosto de 2008, sua compra em dezembro do mesmo ano e sua restauração iniciada em junho de 2009, minha “dançarina” tem me mantido ocupado durante as noites, os fins de semana e as férias. Meus longos meses de pesquisas foram facilitados pela Internet. Minhas visitas ao Musée de la Marine no Trocadéro e ao Yacht Club de France, bem como a consulta às coleções do Ministério da Defesa de Vincennes e aos arquivos municipais de Le Perreux-sur-Marne e do departamento de Seine-et-Marne foram bastante úteis. Minhas andanças pelo Canal da Mancha me colocaram em contato próximo com a RORC, a Biblioteca Central de Plymouth e o fotógrafo Beken, em Cowes.

Revista Bateaux n° 31, dezembro de 1960 [107] — capa. Foto: P. Groult, tirada durante a regata Cowes-La Corogne – Guy Tabarly em pé, visto de costas, com roupas leves, no cockpit.

Ancoradouro do antigo porto de Roscoff, por volta de 1981. Foto: J. Cosson

Visitas a várias livrarias especializadas ou a lojas de segunda mão e a análise de artigos, livros e listas da Lloyd completaram minha busca por informações. Visitei a sede da Pierre Delmez Constructions Nautiques e a comuna de Saint-Servan, onde está localizado o ancoradouro da família Danycan. Em resumo, uma quantidade considerável de trabalho investigativo permitiu a reconstrução gradual do contexto histórico do veleiro.

Sei o quanto tenho sorte de ter levado esse projeto a cabo. Desde 2013, tenho o prazer de navegar a bordo desse barco clássico, trazendo-o de volta às suas origens como veleiro de cruzeiro oceânico.

A primeira parte do livro relata a história do veleiro e de suas tripulações e a contribuição dos marinheiros franceses para a ofensiva contra a hegemonia anglo-saxônica, que durou pouco mais de uma década, antes da vitória de 1964. Seus vínculos com Tabarly e Pen Duick são explicados. O período abordado é o da expansão da navegação na França, com destaque para o surgimento da escola Glénans e de novas formas de navegação, concepção e construção. A questão sobre o destino dos diferentes veleiros que cruzaram o caminho do Danycan também foi levantada. Temos provas recentes da existência de cerca de um terço dos 300 veleiros que navegaram com ele entre 1952 e 1961.

A segunda parte analisa, em primeiro lugar, os arquitetos e os construtores que influenciaram meu aprendizado. Todos eles têm uma coisa em comum: são participantes diretos ou herdeiros dessa era de conquistas e deram uma grande contribuição para o surgimento, entre 1970 e 1990, da excelência francesa que é reconhecida nas corridas oceânicas de hoje. A segunda parte tem a intenção de apresentar de forma tanto técnica quanto ilustrativa os pontos mais importantes da restauração do meu pequeno clássico, realizada entre 2008 e 2017. Relato os conselhos de alguns dos principais nomes do iatismo tradicional, assim como todo o processo para que um barco a vela fosse classificado como monumento histórico pelo Ministério da Cultura, além da colaboração com o DRAC, o Conselho Regional da Bretanha, o Conselho Geral de Finistère e a comuna de Crozon, também registrada.

Ancoradouro de La Trinité-sur-Mer, 1952. Foto: M. Levesque

Aproximando-se do ancoradouro no norte da Bretanha, durante a regata de 1956, que permitiu que Rosanbo completasse uma volta saindo de La Trinité-sur-Mer. Foram feitas várias escalas: Cowes, Dinard, Cowes, Plymouth, Belle-Île, Santander, Belle-Île, Les Sables-d’Olonne e, finalmente, La Rochelle. Alain Tertrais, Guy Tabarly, Hubert Levesque e Michel Dubigeon estavam a bordo. Foto: A. Tertrais

Os primeiros anos de navegação e a participação em festivais marítimos, bem como a vitória em Plymouth-La Rochelle em 2018, após sua completa restauração, são mencionados. Com esse livro, quero contribuir para demonstrar o amor de uma comunidade crescente pelo iatismo tradicional. Para mim, também é uma boa oportunidade para fazer emergir do esquecimento esse veleiro, suas tripulações e seu excelente histórico de conquistas, de testemunhar seu ressurgimento e de dar nova vida ao período da navegação pós-guerra.

Conteúdo do livro e anexos

Sumário:

Trecho da obra — Sumário. Foto: P. Lamache

Meus objetivos ao escrever o livro foram os seguintes:

  • Inserir a história do Danycan no contexto da ofensiva dos pioneiros franceses nas regatas RORC;
  • Trazer um resumo dos resultados franceses do pós-guerra, antes de 1964;
  • Propor um registro dos 400 iates clássicos que competiram com o meu;
  • Evocar meu aprendizado em navegação, embalado pelas produções dos herdeiros desse período;

Trecho do livro — Primeira página do anexo sobre os resultados franceses na RORC. Foto: P. Lamache

Trechos do livro — Primeiras páginas dos anexos 1 e 2. Foto: P. Lamache

O livro tem cerca de 240 páginas de corpo e 60 páginas de anexos com quase 500 ilustrações, além de contar com um índice de quase 700 nomes de barcos.

Também aproveitei todas as oportunidades para aperfeiçoar minha cultura náutica, estabelecendo vínculos com os artistas que descreveram as alegrias do iatismo em suas obras: citações de escritores clássicos ou contemporâneos no início de cada capítulo, vínculos com os impressionistas e uma breve história da pouco conhecida família Danycan e sua contribuição para a história francesa, no capítulo sobre suas origens.

O livro será de grande interesse para fãs de barcos a vela tradicionais, da restauração de barcos de madeira e da história do iatismo.

De volta às ondas

Reconstruir a história de um iate clássico não é uma tarefa fácil e requer uma enorme quantidade de pesquisa. Trazer um veleiro como esse de volta às suas raízes nas regatas e de volta à luz exige enorme comprometimento e compreensão das pessoas próximas a ele.

A felicidade e a paixão atingem seu ápice, quando temos a sensação de estarmos contribuindo, ainda que modestamente, para a preservação da memória de uma época e o ressurgimento de seu espírito. Seguir o fio condutor da história do meu próprio barco me levou a evocar os homens e mulheres que construíram o Danycan e aqueles a bordo dos iates que o acompanharam. Do pós-guerra até o início da década de 1960, todos esses competidores fizeram parte da conquista francesa dos oceanos através das travessias oceânicas e da erosão gradual da supremacia anglo-saxônica. Além disso, essa dinâmica foi mantida no iatismo francês, entre as décadas de 1970 e 1990, quando fui aprendiz em veleiros projetados e construídos pelos herdeiros diretos daquela época. Nem sempre avaliei o significado da decisão tomada em 2008 para salvar meu barco. Ao escrever as últimas linhas da história contemporânea de meu iate de 72 anos, sinto-me cheio de orgulho e serenidade. Meu veleiro foi considerado monumento histórico em 2011. Armado de grande obstinação, eu o restaurei por mais de cinco anos, antes de embarcar em uma série de cruzeiros e regatas. Desde 2013, o Danycan recuperou seu lugar de direito na frota de barcos clássicos e tradicionais. Agora, ele está de volta ao lado de iates lendários, como Viola, Khayyâm, Pen Duick, Sea Scamp, Overlord, Bloodhound e muitos outros…

Traduzido do francês por Clara Cerqueira

Bibliografia

Lamache, Patrick. 2022. Danycan, témoin sauvegardé de l’offensive des navigateurs français. Voile Classique. Lorient: Pl Voile Classique.

Tabarly, Éric ; Campistron, Jean. 1974. Mes bateaux et moi. La Galaxie. Paris: Hachette.


Notas

  • 1
    Eugène Cornu (1903-1987) é arquiteto naval e marinheiro francês. Desenhista talentoso, ele projetou vários navios e regatas durante a Segunda Guerra Mundial, mas continua famoso por seus veleiros, como o Licorne e o Belouga.
  • 2
    N.T: Parte do casco não submersa, da linha d’água até a extremidade da haste ou da linha d’água traseira até a extremidade da popa. Fonte.
  • 3
    N.T: Grand Ouest é uma região da França que abrange a Bretanha e o País de Loire.
  • 4
    N.T: Placas longitudinais no nível do casco que unem as partes superior e inferior. Fonte.

Deixe um comentário

Required fields are marked *.