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Vozes indígenas, trilhas para renovar o Brasil
Junia Barreto

Neste mês ocorreu a 20a edição do Acampamento Terra Livre em Brasília, no momento em que temos um Ministério dos Povos Indígenas; em que a FUNAI é presidida por uma mulher indígena e em que um indígena foi eleito como imortal da Academia Brasileira de Letras. Os ventos parecem soprar favoravelmente, mas nem sempre foi assim.

A luta dos povos indígenas é ancestral. Ela começa no exato momento em que se inicia a empresa colonial portuguesa na Terra Brasilis. Não há julgamento algum que altere esse fato. Se precisamos realmente falar em Marco Temporal, é melhor começar falando do Cabral. A causa indígena é de suma importância para a compreensão do Brasil. É uma luta que concerne aos povos indígenas, diretamente implicados, mas também aos não indígenas.

Durante a pandemia Junia Barreto idealizou o projeto Vozes indígenas, trilhas para renovar o Brasil com o objetivo de abrir espaço às diferentes comunidades indígenas de norte a sul do país. O dossiê foi publicado em português e francês pela revista internacional Sens public em novembro de 2022. Publicamos, hoje, seu texto de apresentação do dossiê. No Coletivo Brasil, percorremos o caminho inverso e republicamos este texto ao final das diferentes contribuições. Ao finalizar as republicações do dossiê, esse texto contextualiza o projeto e dá sentido de conjunto à obra.

O dossiê Vozes indígenas, trilhas para renovar o Brasil é fruto de uma parceria de longa data. Já no evento internacional realizado na Universidade de Brasília “Alucinação política das telas”, Erisvan Bone Guajajara expôs sobre seu trabalho na criação do Mídia Índia. A jornada “Sangue indígena, nenhuma gota a mais”, em périplo pela Europa para denunciar as atrocidades cometidas durante o governo Bolsonaro, se fez anunciar em outubro de 2019 no 29e Salon de la Revue, em Paris; em jantares íntimos parisienses e mesmo durante a comemoração em homenagem a Clemenceau patrocinada pelo Estado francês. Também no ATL de 2021, estivemos ao lado dos povos indígenas e em apoio a suas reivindicações.

Nesse momento em que o Acampamento Terra Livre 2024 está em seu pleno curso, a professora e pesquisadora Junia Barreto renova seu apoio à luta e à resistência indígenas. Frente ao conformismo, à passividade e até mesmo à violência reinantes, os indígenas se organizaram e fizeram a diferença.

Assim como no momento de publicação do dossiê Vozes indígenas, trilhas para renovar o Brasil, o Coletivo Brasil pretende reforçar o seu apoio aos povos indígenas, assim como reiterar o convite para que participem de nossa plataforma com suas ideias testemunhos e projetos, multiplicando suas vozes e amplificando o som de seus maracás[…]

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Ressentimento em meio à riqueza
Elementos para uma geografia brasileira do descontentamento e da polarização política
Aristides Monteiro Neto

Aristides Monteiro Neto traz um panorama da ascensão da política de direita e ultradireita no Ocidente e demonstra os caminhos tomados por ela em meio ao território nacional, desde o impeachment da presidenta Dilma Rousseff até os dias atuais. O autor questiona ainda as razões para a adesão massiva a ideias antidemocráticas e conservadoras, especialmente nas regiões mais ricas do Brasil, e o motivo do grande descontentamento político apresentado por elas. A hipótese desenvolvida por ele para responder a esses questionamentos é apresentada aqui de forma clara e inequívoca, constituindo uma verdadeira análise política e social de nosso vasto país.[…]

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O comportamento da classe média e o declínio da democracia no Brasil, o fator subjetivo na história
Soleni Fressato

O texto tem como objetivo pensar a classe média e o seu papel nas eleições presidenciais de 2018, que levaram Jair Messias Bolsonaro, do Partido Social Liberal (PSL), ao Palácio do Planalto. Como tese principal, o texto argumenta que a classe média não possui uma identidade de classe que lhe seja própria e, assim, assimila as referências culturais das classes superiores. Como consequência dessa ausência de ideologia própria, a classe média, em uma tentativa de diferenciar-se, demonstra preconceito com as classes populares. Para compreender essa questão, o texto divide-se em três momentos. Inicialmente, é feita uma análise histórica da formação da classe média; em seguida, é discutida a emergência da « nova » classe média; em um terceiro momento, é apresentada a percepção da classe média sobre a crise econômica global iniciada em 2008. Texto originalmente publicado na revista Sens public[…]

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Neoliberalismo autoritário no Brasil
Daniel Pereira Andrade

Para compreender a virada autoritária do neoliberalismo no Brasil durante o governo Bolsonaro, o artigo examina como as reformas neoliberais se compõem com uma racionalidade política historicamente situada: a lógica militar da guerra ao inimigo interno. O artigo enumera, em primeiro lugar, os projetos de reforma neoliberal propostos pelo ministro da economia Paulo Guedes nos três primeiros meses de governo. Em segundo lugar, mapeia a participação dos militares no governo Bolsonaro e analisa o surgimento da lógica militar da guerra ao inimigo interno durante a Ditadura Militar (1964-1985), sua metamorfose em guerra às drogas ao longo da Nova República e sua atualização por meio das operações de “pacificação”. Por fim, o artigo mostra como as racionalidades neoliberal e militar se compõem na virada autoritária brasileira, criando, de um lado, reforço mútuo, e, de outro, bloqueios que colocam a democracia brasileira em xeque. Texto originalmente publicado no dossie Le néolibéralisme autoritaire au miroir du Brésil da revista Sens public. […]