O presente texto é uma carta destinada sobretudo à sociedade não indígena. Em tempos de pandemia, violência e genocídio, as suas palavras devem ecoar e encontrar novos interlocutores. Aliando sensibilidade poética a engajamento histórico-social, Márcia Wayna Kambeba nos apresenta um retrato necessário da situação da “Terra Mãe” no século XXI. Ela nos faz um convite a pensar a defesa do meio ambiente, os saberes indígenas e a necessidade de se repensar a narrativa de “progresso”. Esse texto foi originalmente publicado no Dossiê Vozes Indígenas, da revista Sens public.[…]
Carta dos povos da floresta à sociedade não indígena
Toda retrospectiva é uma antologia
Luiz Capelo
O Coletivo Brasil pensa sua trajetória no ano de 2023 e constrói uma retrospectiva do trabalho realizado até aqui.[…]
Redário, articulação de coletores de sementes
Camila Motta
O Coletivo Brasil teve o prazer de entrevistar Camila Motta, bióloga, Presidente da Rede de Sementes do Cerrado e Integrante do Comitê Gestor do Redário.[…]
O Brasil como destino
Elizabete Sanches Rocha, Giovanna Leme de Castro e Letícia Laurenti Olivi
Nesse momento em que há acirramento da tensão entre a Venezuela e a Guiana pela disputa da região de Essequibo, o Coletivo Brasil publica um texto de Elizabete Sanches Rocha, Giovanna Leme de Castro e Letícia Laurento Olivi sobre a imigração venezuelana para o Brasil. A discussão sobre a imigração se impõe como necessária em decorrência do conflito. No artigo, as autoras discorrem sobre o fluxo migratório de venezuelanos com destino ao Brasil. Além de um histórico dessa migração, as autoras discutem a prática da interiorização dos imigrantes e a necessidade do reconhecimento cultural como base do acolhimento.[…]
O comportamento da classe média e o declínio da democracia no Brasil, o fator subjetivo na história
Soleni Fressato
O texto tem como objetivo pensar a classe média e o seu papel nas eleições presidenciais de 2018, que levaram Jair Messias Bolsonaro, do Partido Social Liberal (PSL), ao Palácio do Planalto. Como tese principal, o texto argumenta que a classe média não possui uma identidade de classe que lhe seja própria e, assim, assimila as referências culturais das classes superiores. Como consequência dessa ausência de ideologia própria, a classe média, em uma tentativa de diferenciar-se, demonstra preconceito com as classes populares. Para compreender essa questão, o texto divide-se em três momentos. Inicialmente, é feita uma análise histórica da formação da classe média; em seguida, é discutida a emergência da « nova » classe média; em um terceiro momento, é apresentada a percepção da classe média sobre a crise econômica global iniciada em 2008. Texto originalmente publicado na revista Sens public[…]
Povos indígenas e a pandemia no Brasil
Manuel Prado Junior
Este ensaio apresenta um breve levantamento das questões enfrentadas pelos povos indígenas para a garantia de seus direitos no Brasil. A partir de uma perspectiva temporal, verifica-se que povos indígenas sofrem dificuldades para a concretização de seus direitos fundamentais há décadas, situação sensivelmente agravada pela atual pandemia. Compreende-se que resgatar esse histórico de violações, mas também o de mobilização em torno de seus direitos é fundamental para a compreensão das dimensões dos impactos atuais. Texto originalmente publicado na revista Sens public.[…]
Uma visão crítica do mar e zona costeira brasileiros
João Lara Mesquita
Neste artigo, João Lara Mesquita, jornalista e editor do site Mar Sem Fim, apresenta-nos um panorama da costa brasileira e aponta três dos principais entraves para sua proteção efetiva: o não cumprimento das leis ambientais, a ineficiência das unidades de conservação marinha e a pressão do mercado imobiliário. Preocupado com o cenário de calamidade com que nos deparamos hoje e suas consequências, o autor propõe ainda soluções para salvaguardar os ecossistemas costeiros e marinhos e evitar tragédias.[…]
Primavera indígena
Cacique Darã, Cacique Awa Tenondengua e Cacique Anildo Awarokadju
Semana passada, no dia 19 de outubro de 2023, Cacique Darã ancestralizou. A causa de sua morte não foi divulgada, e a polícia ainda investiga. A morte é parte indissociável da vida. Partindo o indivíduo, ficam suas lutas e conquistas. O Coletivo Brasil compartilha a atuação do Cacique Darã no acampamento “Luta pela Vida”, organizado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), realizado em 2021, na cidade de Brasília. O evento foi a maior mobilização indígena até então realizada. Testemunhos, fotografias e vídeo revelam os principais momentos da manifestação, que reuniu seis mil indígenas, de 176 etnias, com o objetivo de lutar pelos direitos dos povos originários e pela demarcação de terras durante o governo de Jair Bolsonaro.É importante salientar que a luta indígena pelo direito a suas terras ainda persiste. Esse texto foi originalmente publicado na revista Sens public. […]
Povos indígenas e violações no contexto da pandemia da Covid-19 no Brasil
Eloy Terena
Ontem, dia 21 de setembro de 2023, o Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou a tese do Marco Temporal. Entre os 11 ministros do STF, 9 votaram contra a tese e 2 votaram a favor. Ora, mas o que é o Marco Temporal? A tese do Marco Temporal surgiu em 2009, em parecer da Advocacia-Geral da União sobre a demarcação da reserva Raposa-Serra do Sol, em Roraima. Segundo essa tese jurídica, os povos indígenas teriam direito a ocupar e/ou reinvindicar a ocupação de terras que já ocupavam ou disputavam a posse em 5 de outubro de 1988, data de promulgação da Constituição Federal de 1988. Em 2003, foi criada a Terra Indígena (TI) Ibirama-Laklãnõ, em Santa Catarina. Contudo, parte do território dessa TI era ocupada por agricultures. Assim, em 2013, o governo de Santa Catarina, especificamente o Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina, baseando-se na tese do Marco Temporal, ganhou a posse do território após decisão do Tribunal Federal da 4a Região (TRF-4). A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI) questionou a decisão do TRF-4 no STF. Santa Catarina entrou com processo no STF argumentando que a área näo deveria fazer parte da TI, pois ela não era ocupada por indígenas em 5 de outubro de 1988. Os Xokleng argumentaram que não estavam na território porque haviam sido expulsos dali. A decisão sobre a TI Ibirama-Laklãnõ firma o entendimento do STF sobre as demais TI Brasil afora. Daí a grande importância do julgamento ocorrido ontem.
Eloy Terena, autor do artigo que agora publicamos no Coletivo Brasil e que outrora foi publicado na Sens public, é secretário Executivo no Ministério dos Povos Indígenas. Eloy atuou ativamente pela derrocada da tese do Marco Temporal. Assim, é com grande alegria e sabendo da atualidade do tema que o Coletivo Brasil publica o texto de Eloy Terena sobre a a situação dos povos indígenas do Brasil no contexto da pandemia da Covid-19. O autor vale-se de dois movimentos teórico-metodológicos. O primeiro é olhar para as ações adotadas pelo movimento indígena desde o início da pandemia, principalmente aquelas empreendidas diante da omissão do Estado em apresentar planos e executar ações direcionadas especificamente para os povos indígenas, aumentando a vulnerabilidade e o risco de contágio do vírus. O segundo movimento está centrado no Estado e na sua incapacidade de lidar com a realidade indígena brasileira. Além de o trabalho constituir-se em um importante registro ao oferecer um panorama da situação e de como os fatos se desenrolaram; ele também busca trazer à baila reflexões sobre os desafios dos povos indígenas num contexto além da pandemia. Tal situação requer necessariamente trazer à discussão as demandas históricas dos povos, o que implica analisar o relacionamento do Estado com os povos originários, a urgente conclusão da demarcação das Terras indígenas e o respeito às cosmovisões indígenas sobre seus territórios. Este é um recado político reiterado pelo movimento indígena e suas lideranças e não foi discutido internacionalmente com a seriedade necessária. Os territórios tradicionais tão vitais para os povos indígenas cumprem um papel no equilíbrio da vida humana. O capital que oprime esses povos agora obriga todos a refletirem sobre o bem viver e as consequências climáticas da destruição da biodiversidade mundial.[…]
Ancestralidade e memória, uma reflexão por intermédio de desenhos
Renata Inahuazo
Reflexões da artista Renata Ribeiro Inahuazo, indígena em contexto de cidade e residente em São Paulo, sobre a arte pela qual expressa suas inquietudes pessoais e políticas. Em exclusividade à Sens Public, ela conta o que a inspirou para compor os cinco desenhos que abrem o presente dossiê. Por meio de um relato potente, que une reflexão, ancestralidade, memória de lutas e cosmologias indígenas, ela oferta pistas para compreendermos a complexidade, o alcance e a sensibilidade de sua obra. Esse texto foi originalmente publicado no Dossiê Vozes Indígenas, da revista Sens public.[…]