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Da indecência à violência
Gérard Wormser

A imprensa acompanhou a campanha de Bolsonaro sem desqualificar suas afirmações difamatórias e discriminatórias. O ataque do qual ele foi vítima, há um mês das eleições, incrementou ainda mais a difusão de sua propaganda eleitoral.

As telenovelas cultivam o assédio sexual e as fantasias de poder. Essas patologias tornam-se a realidade brasileira e as piores atitudes racistas dão-se de forma completamente livre. Algo nunca antes visto. Apoiado pelos evangélicos, os meios financeiros e as principais mídias, Jair Bolsonaro se mantém sozinho do colapso político. Algum sinal alarmante? A prisão de Lula, o assassinato de Marielle Franco – vereadora do Rio de Janeiro conselheira crítica da intervenção militar – o incêndio do Museu Nacional que destruiu coleções únicas, como as das populações nativas do Brasil…

Um povo elegendo livremente a extrema direita sem nenhuma ameaça, onde isso já se viu? Esse domingo, 21 de outubro, os partidários de Bolsonaro manifestaram sua força nas capitais do Brasil: levados pela vitória, votaram pela ordem às custas da desigualdade sem culpa. Seu líder diz que o Brasil sairá da ONU se for pressionado. Se for na Europa, o Conselho Europeu ou União Europeia poderia agir aqui; mas, o regime brasileiro soberano pode destituir as nações mesmo se esse país é feito do mundo inteiro!

Quem acreditaria nisso? Em setembro, o periódico Piaui evidencia o elefante Lula invisível na sala onde estão os candidatos. Mas, o cerne dessa edição é a investigação sobre o futuro ministro da economia, Paulo Guedes. Apesar das críticas, o artigo apresenta um desconhecido formado em Chicago nos anos 70. Ensinou no Chile de Pinochet, quer reduzir o tamanho do Estado e baixar o imposto dos ricos para 20%. Com essa tarifa, a dívida pública será financiada pelo capital: os juros são devolvidos aos mesmos. O resto contribuirá por muito mais tempo, mesmo se o trabalho informal diz respeito a milhões de famílias… Sem falar da violência colérica que já vem se liberando e será incontrolável – um pretexto a mais para reprimir.

Os juízes visaram a corrupção do Congresso Nacional, mas o que poderão fazer contra a violência e os abusos de poder? O malogro do judiciário brasileiro dá a um ex-militar, por muito tempo um mero deputado federal desconhecido, um status de um homem excepcional. Depois de ser atacado com uma faca, multiplica  por segundo suas provocações, difíceis de encarar sem fazer estrago. Declarou preferir ver seu filho morrer em um acidente ao invés de saber que ele é homossexual: dois de seus filhos entraram pro Congresso desde o primeiro turno!

O que pode acontecer? A população apoia os valores morais – não fazer o mal, ser íntegro e limpo, acolher ao próximo – mas, sua fraca consciência política e a rejeição aos políticos os desfavorecem. Qualquer que sejam as fake news das redes sociais, Jessé de Souza  mostrou que a classe média se submeteu aos mais ricos por se distanciar do povo (A Elite do Atraso, 2017). Ela não é medida pela desconfiança e pela violência que se delineia. Faltam mediações societárias e o salve-se quem puder dos opositores desamparados será reprimido.

Será necessário um boicote internacional rápido e o apoio seletivo às resistências. A solidariedade deve ser total com os brasileiros que apreenderam a problemática do voto – particularmente o Nordeste. Aqui, os pobres votam majoritariamente por Fernando Haddad ou Ciro Gomes. É preciso defendê-los sem trégua para evitar a ruptura com a trajetória democrática brasileira.

por Gérard Wormser

tradução Bárbara Cardoso

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