Ontem, dia 21 de setembro de 2023, o Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou a tese do Marco Temporal. Entre os 11 ministros do STF, 9 votaram contra a tese e 2 votaram a favor. Ora, mas o que é o Marco Temporal? A tese do Marco Temporal surgiu em 2009, em parecer da Advocacia-Geral da União sobre a demarcação da reserva Raposa-Serra do Sol, em Roraima. Segundo essa tese jurídica, os povos indígenas teriam direito a ocupar e/ou reinvindicar a ocupação de terras que já ocupavam ou disputavam a posse em 5 de outubro de 1988, data de promulgação da Constituição Federal de 1988. Em 2003, foi criada a Terra Indígena (TI) Ibirama-Laklãnõ, em Santa Catarina. Contudo, parte do território dessa TI era ocupada por agricultures. Assim, em 2013, o governo de Santa Catarina, especificamente o Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina, baseando-se na tese do Marco Temporal, ganhou a posse do território após decisão do Tribunal Federal da 4a Região (TRF-4). A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI) questionou a decisão do TRF-4 no STF. Santa Catarina entrou com processo no STF argumentando que a área näo deveria fazer parte da TI, pois ela não era ocupada por indígenas em 5 de outubro de 1988. Os Xokleng argumentaram que não estavam na território porque haviam sido expulsos dali. A decisão sobre a TI Ibirama-Laklãnõ firma o entendimento do STF sobre as demais TI Brasil afora. Daí a grande importância do julgamento ocorrido ontem.
Eloy Terena, autor do artigo que agora publicamos no Coletivo Brasil e que outrora foi publicado na Sens public, é secretário Executivo no Ministério dos Povos Indígenas. Eloy atuou ativamente pela derrocada da tese do Marco Temporal. Assim, é com grande alegria e sabendo da atualidade do tema que o Coletivo Brasil publica o texto de Eloy Terena sobre a a situação dos povos indígenas do Brasil no contexto da pandemia da Covid-19. O autor vale-se de dois movimentos teórico-metodológicos. O primeiro é olhar para as ações adotadas pelo movimento indígena desde o início da pandemia, principalmente aquelas empreendidas diante da omissão do Estado em apresentar planos e executar ações direcionadas especificamente para os povos indígenas, aumentando a vulnerabilidade e o risco de contágio do vírus. O segundo movimento está centrado no Estado e na sua incapacidade de lidar com a realidade indígena brasileira. Além de o trabalho constituir-se em um importante registro ao oferecer um panorama da situação e de como os fatos se desenrolaram; ele também busca trazer à baila reflexões sobre os desafios dos povos indígenas num contexto além da pandemia. Tal situação requer necessariamente trazer à discussão as demandas históricas dos povos, o que implica analisar o relacionamento do Estado com os povos originários, a urgente conclusão da demarcação das Terras indígenas e o respeito às cosmovisões indígenas sobre seus territórios. Este é um recado político reiterado pelo movimento indígena e suas lideranças e não foi discutido internacionalmente com a seriedade necessária. Os territórios tradicionais tão vitais para os povos indígenas cumprem um papel no equilíbrio da vida humana. O capital que oprime esses povos agora obriga todos a refletirem sobre o bem viver e as consequências climáticas da destruição da biodiversidade mundial.[…]
Povos indígenas e violações no contexto da pandemia da Covid-19 no Brasil
Ancestralidade e memória, uma reflexão por intermédio de desenhos
Renata Inahuazo
Reflexões da artista Renata Ribeiro Inahuazo, indígena em contexto de cidade e residente em São Paulo, sobre a arte pela qual expressa suas inquietudes pessoais e políticas. Em exclusividade à Sens Public, ela conta o que a inspirou para compor os cinco desenhos que abrem o presente dossiê. Por meio de um relato potente, que une reflexão, ancestralidade, memória de lutas e cosmologias indígenas, ela oferta pistas para compreendermos a complexidade, o alcance e a sensibilidade de sua obra. Esse texto foi originalmente publicado no Dossiê Vozes Indígenas, da revista Sens public.[…]
Ensino das Línguas Indígenas na Universidade de Brasília
Edilson Martins Melgueiro-Baniwa
Este trabalho é um estudo descritivo do tipo relato de experiências realizadas pelos acadêmicos/pesquisadores/professores indígenas no Ensino das Línguas indígenas na Universidade de Brasília através da disciplina “Línguas indígenas e suas Diversidade”, ofertada pelo Programa Permanente de Extensão UnB Idiomas. O objetivo é mostrar caminhos, desafios, avanços e perspectivas dessa experiência que se iniciou em 2018 na UnB. A partir dos relatos das ações, identificamos que os caminhos são árduos, que não há avanço e que há muitas limitações e desafios na discussão e ensino das línguas indígenas na Universidade de Brasília-UnB. Esse texto foi originalmente publicado pela Sens public no dossiê Vozes indígenas, trilhas para renovar o Brasil.[…]
UNIVAJA – União dos Povos Indígenas do Vale do Javari
Eliésio Marubo
O vídeo apresenta uma das maiores terras indígenas do Brasil, localizada no Vale do Javari, com seus encantos e desafios. Recentemente, o Vale do Javari foi o palco do assassinato do indigenista brasileiro Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips envolvidos em causas ligadas à preservação da Amazônia e à proteção dos povos indígenas da região. O vídeo traz também o importante testemunho do indígena Eliésio Marubo, procurador jurídico da UNIVAJA, que fala de sua difícil luta pela garantia dos direitos dos povos originários da região. Esse texto foi originalmente publicado no dossiê Vozes indígenas, trilhas para renovar o Brasil na Sens public[…]
Povo Pataxó
Leonarda Costa Txàmãgay
O povo Pataxó reside na região que hoje é o sul da Bahia desde antes da chegada dos portugueses. Entre as áreas que eles ocupam, está o distrito de Cumuruxatiba, no município de Prado. Ali está localizada a Terra Indígena de Comexatiba, que inclui diversas aldeias. Esse território de ocupação ancestral é atualmente palco de disputas entre fazendeiros e indígenas pela posse da terra. No meio do conflito, os Pataxó seguem suas vidas cotidianas da melhor forma possível. A comunidade organizou-se para escrever e falar sobre si própria. Assim, ela denuncia os ataques que vem sofrendo, mas também se mostra e apresenta sua cultura. Esse texto foi originalmente publicado no dossiê Vozes indígenas, trilhas para renovar o Brasil.[…]
Povos indígenas, saúde e doença
Ariel Pheula do Couto e Silva
Ariel Pheula discorre sobre sua experiência junto aos Avá-canoeiro e sua atuação como tradutor-intérprete. Esse artigo foi originalmente publicado no dossiê Vozes indígenas, trilhas para renovar o Brasil da revista Sens public[…]
Aldeia Renascer Ywyty Guaçu
Fabiano Awa Mitã
Esse texto faz parte do dossiê Trilhas para renovar o Brasil, concebido e dirigido por Junia Barreto e publicado na revista Sens public. Hoje, Fabiano Awa Mitã, em texto, imagens e vídeo, apresenta a Aldeia Renascer Ywyty Guaçu e seus projetos vinculados à agricultura sustentável e à educação ética e solidária, além de revelar a riqueza do artesanato ali produzido. Um segundo vídeo, montado a partir de imagens enviadas pelos indígenas da Ywyty Guaçu, revela as tentativas de violação do território indígena e a luta da comunidade pela preservação da biodiversidade local.[…]