Chronostalgia, uma batalha pela memória europeia, por Gueorgui Gospodinov

A primeira coisa que eu pensei na manhã de 24 fevereiro de 2022 quando eu ouvi as notícias sobre a invasão russa foi que Vladimir Putin havia começado uma guerra contra todos nós – contra a Europa – e que estavamos perto o suficiente, dentro da distância de um ataque nuclear, e que minha filha dormia no quarto ao lado.

Toda guerra é uma máquina do tempo, e uma volta no tempo. De repente o passado retornou, e eu me lembrei de todas as instruções que haviam martelado em nossas cabeças durante a escola sobre o que fazer em caso de um ataque nuclear. Nenhuma delas tinha alguma serventia. Eu não tinha uma máscara de gás que eu pudesse colocar em menos de 17 segundos, tampouco sabia onde ficava o abrigo nuclear mais próximo (depois, descobri que eles haviam sido fechados há muito tempo). E me pareciam particurlamente absurdas as instruções sobre não ficar perto de uma janela para não ser estraçalhado pela explosão e de não olhar para a nuvem de cogumelo para poupar seus olhos.

E a cereja do bolo: até mesmo a direção agora era diferente – antes esperavamos um ataque vindo do Ocidente, e agora ele poderia vir do Oriente, direito daquele que era o nosso irmão mais velho. É mais do que o suficiente para confundir a pessoa que deve procurar abrigo. Considerei tudo isso, olhei rapidamente ao redor da casa e decidi que o banheiro era o melhor abrigo inicial – afinal, não tinha janelas (sem trocar nenhuma palavra, minha esposa de repente sugeriu que fossemos checar nosso porão para armazenar garradas de água ali). O mais difícil foi explicar tudo isso para minha filha.

Mas os sentimentos eram exatamente o de ser abruptamente empurrado de volta no tempo e, além disso, o do fim da vida cotidiana. Há momentos em que o dia a dia transforma-se em história, em guerra. Eu secretamente esperava que nossa geração pudesse escapar disso. Eu imaginava claramente uma família ucraniana, os filhos acordando para ir ao colégio, meio ranzinzas, eles gostariam de continuar dormindo, eles comem torrada com geléia e de repente a guerra é anunciada na TV. E tudo gira em suas cabeças, tudo desmorona, assim como, um ou dois dias depois, blocos de apartamentos, e cozinhas onde foram deixadas torradas a comer, começam a desmoronar…

Há quatros anos atrás, escrevi um romance em que o sentimento de um “déficit de futuro” era tão intenso que toda nação na Europa queria fazer seu próprio referendo sobre o passado. Até ali, referendos sempre foram sobre o futuro, eles definiam como as coisas deveriam ser dali pra frente, mas havia chegado o momento em que o horizonte se fechou e começamos a olhar exclusivamente para trás, em direção ao passado. O que tal referendo pretende? A escolha da década mais feliz do século 20 na história de cada nação. Um déficit de futuro sempre libera enormes reservas de nostalgia pelo passado. E eis que chega o momento do passado inundar o continente.

Para qual década do século 20 nações como Alemanha, França e Suécia escolheriam retornar? E aquelas que estão na periferia, como Bulgária e Romênia? A escolha seria mais difícil em alguns casos, já que haviam muitas décadas felizes, enquanto outros países não teriam nenhuma. De qualquer forma, a Alemanha escolhe o final dos anos 80, um eterno contínuo móvel de 1989 em que o Muro está constantemente caindo. A Itália volta para os anos 60. Mas para a Bulgária, claro, as coisas são um pouco mais complicadas. É como se o mapa da Europa passasse de territorial para temporal, e as várias nações se fecham em seu próprio passado feliz. Mas por um curto período de tempo.

Eu acho que esse modelo, ou metáfora, esse forte retorno ao passado, pode ser visto hoje também. Em suma, o tempo substituiu o espaço. O mundo foi dividido e, mais ou menos explorado e familiar,tornou-se estreito para nossas almas, para parafrasear o poeta. Ficamos com um imenso oceano de tempo, que na realidade é um oceano de passado.

Chronostalgia

Guéorgui Gospodinov, Le Pays du passé. Créditos: Gallimard.

A própria ideia de nostalgia mudou. Ela já não é mais centrada em um local específico ou uma casa (nostos), como a etimologia da palavra sugere. Nostalgia agora é por um tempo diferente. Tempo substituiu espaço, então talvez devessemos utilizar um outro termo – chronostalgia, por exemplo.

Nesse sentido, nossas guerras tornaram-se guerras pelo passado.

Quando o romance foi publicado, em uma leitura pública alguém da audiência me perguntou: OK, mas o que escolheu a Rússia? Eu não tinha certeza, eu gostava de pensar que seria o tempo de Gorbachev, da perestroika. Mas a resposta veio no 24 de fevereiro 2022. E foi uma das mais difíceis respostas de se proferir porque, nesse referendo invisível pelo passado, a Rússia escolheu os anos da Segunda Guerra Mundial. Anos em que a mítica estaria do lado deles da última vez. Em que eles desfrutavam do reconhecimento de um mundo que era até capaz de esquecer por um tempo das crueldades do sistema soviético, Stalin, Gulags, Holodomor. A última vez em que foram vencedores (ignore que do outro lado estão aqueles que foram mortos, tornaram-se orfãos, viúvas… há nações e sistemas, e o sofrimento pessoal não é levado em consideração).

O romance termina com uma cena grandiosa de encenação histórica que pontualmente replicava o início da Segunda Guerra Mundial. Um tiro acidental torna a encenação na Terceira Guerra Mundial. Até a hora no livro tinha de ser a mesma: 4.47 AM (tudo bem, a guerra de Putin começou às 4.50).

E então, aquilo que experienciamos hoje é uma batalha pelo passado, por uma redistribuição do passado. O passado como um álibi, um recurso. Para a minha geração e a dos meus pais, o futuro – o futuro comunista – era apenas um álibi. Ali, ele poderia justificar e explicar todas as dificuldades do presente. Hoje, já que o “futuro” foi exaurido como matéria prima, populistas e nacionalistas começaram a promoter o “passado”. Nesse sentido, é compreensível o porquê de Vladimir Putin escolher retornar para o início dos anos 1940. Mas diferentes tempos e enclaves temporais podem viver lado a lado em um único continente? Não. E não apenas porque a felicidade de um povo não pode depender da infelicidade de um outro. Mas também porque o passado não é um projeto individual. Você não pode viver nele sozinho.

A recente infelicidade e o isolamento da Rússia fez com que ela retornasse ao “feliz” e poderoso tempo da União Soviética. Mas ali tudo é vazio e deserto. Ninguém com quem tenha competido ou batalhado, inimigo ou aliado, existe mais. Você precisa inventar um novo inimigo, uma nova ameaça. A única opção é arrastar seu vizinho mais próximo para esse passado, então arrastar os demais vizinhos, a Europa e o mundo, por que não? Com essa guerra, Putin está dizendo: “vamos lutar no meu território, opa, desculpa, eu quis dizer no meu tempo, em 1940”. É semelhante ao aperto de mão de Don Giovanni em O convidado de pedra, personagem cuja mão estendida você não pode apertar para que não seja puxado pro submundo (em décadas recentes, vários países europeus, incluindo a Bulgária, falharam em entender isto e frenquentemente apertaram aquela mão).

O que Putin deseja agora não é vencer essa guerra, mas que ela se torne crônica, para forçar a todos nós a viver nesse regime. Seu objetivo metódico é de bombardear e arrasar o presente (e o futuro) com toda sua estrutura e seu cotidiano – e então não haverá mais água, ou aquecimento ou luz. Destruir a vida cotidiana, a própria existência dela, literalmente aniquilar a nação ucraniana. Poder soviético mais eletricidade – era assim que Lenin descrevia o paraíso do comunismo. Hoje Putin tem sua própria fórmula nesse tema: se você não quer o poder soviético, então não haverá eletricidade para você. Graças a deus o povo da Ucrânia mostrou que se pode ficar sem o poder soviético e sem a eletricidade.

Foto: Gérard Wormser.

Um projeto agressivo de reviver o passado, especialmente um passado não processado, esquecido e reescrito, é o perfeito terreno para o crescimento do populismo e do nacionalismo. Vimos isso com Donald Trump, e agora vemos acontecer de forma ainda mais sinistra sob Putin.

A Europa é o continente com os maiores depósitos de passado. E com a maior memória processada. Cultura, algo de que o continente é tão orgulhoso, é fundamentalmente processar memórias, incluindo a memória de nossas culpas, a memória de nossa infâmia, como colocaria Borges. Das primeiras pinturas rupestres, passando pela Ilíada e a Odisseia de Homero e Os trabalhos e os dias de Hesíodo (preservar e transmitir a história no fácil de decorar hexâmetro) e por Cortés até os testemunhos sobre o nazismo e a Segunda Guerra Mundial. Memória e cultura fazem parte do sistema imunológico da Europa. E ele precisa reconhecer e desarmar os vírus da cegueira coletiva, da perca da razão, a loucura nacionalista e o nascimento de novos ditadores.

Essa guerra começou no momento em que aqueles que carregavam a memória viva da Segunda Guerra já não estão mais conosco. Nós estamos precisamente naquele precipício geracional em que estão morrendo os últimos participantes que mantinham a memória viva – os derradeiros prisioneiros dos campos de concentração, os últimos soldados que lutaram nas trincheiras. Eu apenas espero que não estejamos rumando a uma espécie estranha de Alzheimer coletiva.

A memória é feita de matéria reativa, que deve ser exercitada diariamente. Históras devem ser contadas constantemente para que sejam lembradas, porque quando a chama da memória se apaga, as bestas do passada fecham o círculo ao nosso redor. Quanto menor a memória, maior o passado. Nós lembramos também para deixar o passado estacionado no passado. Mas… aqui quero pegar um pequeno retorno. Isso não é mais apenas uma questão de memória, mas também do que nos lembramos e como. Porque Putin, ele também jura de memória. Porque populismo e nacionalismo criam suas próprias versões da memória. Uma nova memória processada que se encaixa em toda situação, bidimensional, como se estivesse pronta para ser usada em um jogo. Me diga de qual memória necessita que eu a entrego para você. Na Rússia eles nunca fizeram o trabalho pesado envolvendo a memória da Segunda Guerra Mundial como foi feito na Alemanha, por exemplo. O doloroso trabalho que penetra em todas as camadas da sociedade, entra nas instituições, escolas e manuais escolares.

Os vencedores não serão julgados. Mas há coisa que podem ser criticadas e condenadas. A falta de tal trabalho na memória – e um certo remorso sobre o que o exército russo fez com civis nas nações conquistadas, onde um comando militar muitas vezes não poupava a vida de seus próprios soldados, onde a paranóia enviou prisioneiros russos dos campos de Hitler direto para a Sibéria – continua a manter o país na situação de grande vítima. Uma situação e um álibi para novos sacrifícios que ele sente merecer.

Uma das coisas mais pertubadoras aqui e agora é o apagamento dos limites entre verdade e falsidade. A tentativa de nos empurrar para um mundo onde nada importa, tudo é permitido, toda mentira pode se passar por verdade, toda conspiração pode ganhar da verdade. Essa é uma falsidade que não apenas reescreve o passado, mas também predetermina o futuro. Colocando com maior precisão, ela cresce em um passado reescrito para justificar atuais agressões e infâmias.

É aqui que a análise e a conversa entram. É aqui que precisamos começar. A linguagem é diferente agora, e precisamos nos dar conta disso. O jeito com que contamos histórias é diferente agora, ele já não mais passa por números, parágrafos e projetos. Ao contrário, ele passa direto pelas pessoas e seus medos, solidão, confusão e esperanças.

Foto: Gérard Wormser.

Onde está a Bulgária nisso tudo ? Na periferia da guerra, se é que a atual guerra tem um front e uma periferia. Considerando a distância e a geografia envolvidas, nós estamos perto, algo entre 500 a 700 km de distância (Odessa está a 721 km de distância em linha reta). Entretanto, passando pelos sistemas de medidas do tempo e do passado, nós estamos ainda mais perto. A galinha não é um pássaro, e a Bulgária não está no exterior, como dizia o ditado soviético, e em 1962 a Bulgária fez uma vergonhosa tentativa de renunciar sua soberania e tornou-se a 16˚ républica da URSS. A conexão Bulgária-Rússia imposta pela história foi espertamente utilizada como propaganda, é claro.

Durante toda minha infância e adolescência eu fui ensinado na escola que a Rússia era nosso irmão mais velho, aquele de quem não poderiamos nos afastar (como todo irmão mais velho, ele bateria nas crianças más da vizinhança que nos pertubavam). Eu também sei decorado até hoje que “a nossa amizade com a União Soviética é vitalmente necessária assim como o sol e o ar para todo ser vivo” – uma citação do herói do Julgamento de Leipzig e o primeiro ditador comunista da Bulgária, Georgi Dimitrov (que, por acaso, também era um cidadão soviético).

Mas é claro, todos em minha geração secretamente sonhavam com outras nações, aquelas desejadas terras estrangeiras a nosso oeste. Isso é uma pequena justiça: a URSS jamais se tornou uma destinação sonhada, apesar de toda a propaganda. Ao contrário, permanecia um lugar de que tinhamos um medo respeitoso. E isso traz consequências para a situação atual.

Aqui a propaganda pró Rússia trabalha facilmente em vários níveis. De um sentimento de gratidão a quem nos libertou duas vezes (mas também nos escravizou duas vezes), passando por veneração pela cultura russa (como se Putin e Chekhov fossem irmãos gêmeos) até declarações de políticos de alto escalão, que se recusam a tomar claramente o lado da vítima. Tudo isso não pode fazer nada além de dividir a sociedade.

De acordo com uma pesquisa da Eurobarometer de maio do ano passado, de todos os países da União Europeia, os búlgaros são os mais próximas da posição russa na guerra. Um aumento na propaganda russa foi observado. A Bulgária está em último lugar em letramento sobre mídias e em índices de vacina, mas em primeiro no índice per capita de mortes por Covid na Europa. Tudo isso está conectado, claro. E toda essa conexão foi de repente desvelada no início da guerra: os antivacinas mostraram-se os mais fervorosos defensores de Putin.

Facebook continua sendo a rede social mais influente na Bulgária, e 90% de nosso tráfico está ali. O problema é que propaganda da internet chegou às mídias oficiais e às sérias também. Muitas criam conteúdo a partir de postagens no Facebook que elas republicam de forma acrítica e sem comentários. Além disso, o Facebook é um laboratório para discurso de ódio, que também está sendo transferido consistentemente para as mídias oficiais. Recentemente um apoiador do partido nacionalista Vuzrazhdane (Renascimento), um convidado em um sério programa de televisão, declarou que a única coisa pela qual criticaria Putin é que sua blitzkrieg na Ucrânia não foi bem sucedida.

A sociedade está selvagemente dividida em duas. Eu não acho que a Búlgaria vê essa polarização, piorada pelas redes sociais e por algumas figuras públicas, há décadas. Pode parecer muito severo, mas eu preciso dizê-lo: às vezes eu tenho a sensação de que estamos no limiar de uma silenciosa guerra civil.

Essa parte da Europa não no centro dos acontecimentos da história desde 1989. Mas essa parte da Europa jamais parou de contar histórias e por intermédio de sua literatura avisar sobre o que já aconteceu e que pode acontecer novamente. Parece-me que essas histórias não têm sido ouvidas como deveriam. Aqui podemos claramente sentir que a história ainda não acabou.

Agora nós sabemos e podemos formular claramente: enquanto houver um único sangramento da história no continente, o continente inteiro sangra. Ninguém pode descansar tranquilamente, não importa há quantos quilômetros à oeste esteja. Percebemos que o centro da Europa não é algo estático, preso em Berlim ou Paris. O centro da Europa é aquele ponto móvel da dor. Ele está onde dói e sangra. Hoje ele está no Oriente, na orgulhosa Ucrânia.

Em um dos mais bonitos artigos sobre a Europa, Ocidente sequestrado, escrito durante a Guerra Fria (1983), Milan Kundera começa no final, um telegrama desesperado enviado pelo diretor da Agência Húngara de Notícias em 1956 e escrito enquanto o edifício estava sob fogo de artilharia. Em sua mensagem se lê:  » nós iremos morrer pela Hungria e pela Europa ». Nesses minutos críticos ele queria comunicar algo. A invasão da Hungria pelo exército russo é a invasão da Europa, não esperem, ajam! Mas a Europa (ou o Ocidente naquele tempo) recebeu e decifrou a mensagem? O Ocidente entendeu a mensagem da invasão da Ucrânia?

Graças a Deus, agora nós sabemos por quem os sinos dobram. O povo na Europa entendeu imediatamente. O artigo de Kundera termina com a amarga que, após a Segunda Guerra Mundial, o Ocidente afastou-se da Europa Central, que permaneceu sob a influência soviética, e simplesmente pensou nela como um satélite do império soviético sem sua própria identidade. Essa inércia, eu ouso dizer, continuou de alguma forma mesmo após 1989. A guerra na Ucrânia na verdade fez a Europa Central e a Oriental retornarem à Europa.

Há algum aspecto em que a periferia ultrapasse o centro? A hipersensividade sobre o que está prestes a acontecer. Capturar o cheiro no ar. Anteriormente a Europa Oriental aprendeu a sentir o perigo em sua própria pele. Por essa razão, eu irei me permitir de colocar a questão deste modo: não subestimem livros, artigos ou poemas vindos dessa região da Europa. Decodifiquem os símbolos presentes neles.

Palavras não param tanques tampouco drones. Mas elas podem (podem realmente?) parar, atrasar ou ao menos fazer que hesitem aqueles nos tanques conduzem guerras contra inocentes. Ao menos por algum tempo. Palavras podem ajudar aqueles que foram enganados por mentiras e propaganda. O fato que os horrores da Segunda Guerra Mundial não tenham se repetido antes de 24 de fevereiro pode ser atribuído em partes à memória dos males que foi processada por testemunhas, escritores e filósofos.

Essa guerra não irá acabar quando a última bala for disparada. Ela começou anos antes do primeiro tiro e irá provavelmente acabar anos após o último. Essa é a nova velha propaganda do front, que agora está mais forte que nunca. E agora a pequena porém duradoura mídia que é a literatura tem um papel a interpretar. No mínimo, o de nos ensinar a resistência e a empatia e o de nos fornecer ferramentas para identificar mentiras. Além disso, os papéis de preservar histórias pessoais do epicentro da dor, de gerar memórias que não serão violadas e de consolar, se possível for.

Nenhuma propaganda deve ser mais forte do que a memória de um pequeno garoto fugindo da guerra com um número de telefone anotado em seu braço.

Traduzido por Luiz Capelo

Créditos foto da capa: Phelia Baruh

Em inglês em Voxeurop

“Cronostalgia” o la batalla de Europa por la memoria, por Gueorgui Gospodinov

Lo primero que me dije la mañana del 24 de febrero, al enterarme de que Rusia había invadido Ucrania, fue que Vladimir Putin acababa de declararnos la guerra a todos – a Europa – y que estábamos muy cerca del conflicto, al alcance de un ataque nuclear, de hecho. Pensé entonces en mi hija, que dormía en la habitación de al lado.

Cada guerra es una máquina del tiempo y un accidente temporal. De repente, el pasado resurge y recuerdo las instrucciones con las que nos machacaban en la escuela sobre el procedimiento a seguir en caso de ataque nuclear. Ninguna me resultó útil: no tenía máscara de gas que ponerme en menos de 17 segundos y desconocía dónde estaba el refugio nuclear más cercano (además, me enteré más tarde de que llevaban mucho tiempo cerrados). Todos los consejos que nos habían impartido, como no quedarnos cerca de una ventana para que la explosión no nos hiciera pedazos o no mirar directamente al hongo para conservar la vista me parecieron completamente absurdos.

Y como guinda del pastel, el ataque no vendría del mismo sitio; mientras que en el pasado esperábamos que viniera del oeste, hoy vendría del este, directamente desde nuestro gran hermano de antaño – esto bastaría para desconcertar a cualquiera sobre los lugares en los que poder refugiarse. Pensé en todo eso, eché un vistazo rápido a la casa, antes de decidir que el baño era la parte mejor situada para hacer las veces de refugio improvisado – después de todo, no tenía ventanas. Sin mediar palabra, mi mujer me propuso inspeccionar el sótano y bajar botellas de agua. Lo más complicado fue explicarle la situación a mi hija.

Eso fue exactamente lo que sentí: la impresión de sumergirme bruscamente en el pasado y el final de nuestra vida ordinaria. Hay un momento en el que el día a día se transforma, se convierte en la historia, se convierte en la guerra. Esperaba en secreto que nuestra generación escapara de ello. Naturalmente, me imaginé a los hijos de una familia ucraniana recién levantados para ir a la escuela: se quejan, no quieren levantarse de la cama, desayunan sus tostadas con mermelada frente a la televisión y, de repente, esta anuncia que la guerra acaba de estallar. Me imaginé la conmoción que vino después, todo se viene abajo, como días después los edificios, las cocinas en las que se habían abandonado aquellas tostadas lo harían también…

Hace cuatro años escribí un libro en el que el sentimiento de “ausencia de futuro” es tan vivo que cada país de Europa quiere organizar su propio referéndum sobre el pasado. Hasta entonces, los referéndums estaban reservados para el futuro y debían definir cómo iban a desarrollarse las cosas. Pero llega aquel momento en el que todo horizonte desaparece y sólo se puede mirar hacia atrás, al pasado. ¿Qué implica este referéndum? La posibilidad de escoger la década más feliz de la historia del siglo XX en cada país. La ausencia de futuro siempre revela unas enormes reservas de nostalgia. Así, llega el momento de que el pasado inunde el continente.

¿A qué década del siglo XX decidirán regresar países como Alemania, Francia o Suecia? ¿Y naciones periféricas como Bulgaria o Rumanía? La decisión es más difícil para aquellos países que han vivido varias décadas de felicidad comparado con los que no han conocido ninguna. Alemania optó por el final de los años 80, por un año 1989 en continuo movimiento y en el que el muro no deja de caerse. Italia volvió a los 60. Sin embargo, para Bulgaria es más delicado. Es como si el mapa de Europa ya no fuera geográfico sino temporal y cada país se encerrase en su propio pasado feliz. Sólo un instante.

Creo que este modelo sirve de metáfora: podemos realizar el experimento de este regreso al pasado también en nuestros días. El tiempo ha sustituido al espacio, el mundo se ha fragmentado; ya explorado y familiar, se ha vuelto muy pequeño para nuestras almas, parafraseando al poeta. Tan sólo nos queda este inmenso océano de tiempo – o, más bien, un océano de pasado.

Cronostaligia

Gueorgui Gospodinov, Le Pays du passé. Créditos: Gallimard.

La idea de nostalgia ha cambiado. Ya no se centra en un lugar u hogar específico (nostos), como sugiere la etimología de la palabra. Ahora la nostalgia es por un tiempo distinto. El tiempo ha sustituido al espacio, así que tal vez debamos usar otro término – por ejemplo, cronostalgia.

En este sentido, nuestras guerras se han convertido en guerras por el pasado.

Cuando salió la novela, en una lectura alguien del público me preguntó: vale, pero, ¿qué escogería Rusia? No estaba seguro, me gustaría pensar que habrían elegido la época de Gorbachov, de la perestroika. La respuesta legó el 24 de febrero de 2022, y es una de las más difíciles de expresar. En este referéndum invisible del pasado, Rusia escogió los años de la Segunda Guerra Mundial. Aquellos años en los que la leyenda parecía estar de su lado por última vez. Gozó del reconocimiento de un mundo que fue capaz incluso de olvidar durante un tiempo la crueldad del sistema soviético, Stalin, los gulags y el Holodomor. La última vez que ganaste (sin importar que en el otro hubiera asesinados, huérfanos o viudas; hay naciones y sistemas donde el sufrimiento personal no cuenta).

La novela termina con una escena de una grandiosa reconstitución histórica que representó con exactitud el estallido de la Segunda Guerra Mundial. Un disparo accidental transforma esta reconstitución en la Tercera Guerra Mundial. Hasta la hora en el libro es la misma: 4:47 am (vale, la guerra de Putin empezó a las 4:50).

Así, todo lo que estamos viviendo hoy es una batalla por el pasado, por su redistribución. El pasado como coartada y como recurso. Para mi generación y la de mis padres, el futuro – el futuro comunista – sólo era una coartada. Por aquel entonces, podía explicar y justificar todas las adversidades del presente. Hoy, con el futuro agotado como materia prima, los populistas y los nacionalistas han comenzado a prometer “pasado”. En este sentido, se puede entender por qué Vladimir Putin escogió volver allí, a principios de los 40. ¿Pero pueden diferentes tiempos y enclaves temporales coexistir en un mismo continente? No. Y no sólo porque la felicidad de un pueblo no puede depender de la infelicidad de otro, sino porque el pasado no es un proyecto individual. No puedes vivir en él solo.

La infelicidad y el aislamiento actuales de Rusia le han hecho mirar atrás a los “felices” y poderosos días de la Unión Soviética. Pero allí todo está vacío y desierto, aquellos contra los que hubieras competido y luchado, a los que hubieras matado o con los que te hubieras aliado ya no están. Necesitas imaginar un nuevo enemigo, una nueva amenaza. La única opción es, para empezar, arrastrar a tu vecino más cercano al pasado; luego a tus otros vecinos, después a Europa y por qué no al mundo. Con esta guerra, Putin está diciendo “luchemos en mi territorio, perdón, en mi tiempo, en los años 40”. Como el convidado de piedra de Don Juan, cuya mano tendida no hay que estrechar para no ser arrastrado al inframundo (en décadas recientes, muchos países europeos, entre ellos Bulgaria, no han entendido esto y han estrechado a menudo esa mano).

Lo que Putin quiere ahora no es ganar esta guerra, sino hacerla crónica, obligarnos a todos a vivir en ese régimen. Su objetivo metódico es bombardear y arrasar el presente (y el futuro), con toda su infraestructura y cotidianidad – hasta que no haya agua, calor, luz. Destruir la vida cotidiana, también desde su existencia, literalmente aniquilar a Ucrania. Poder soviético más electrificación – así describía Lenin el paraíso del comunismo. Hoy, Putin le ha añadido su toque personal: si no quieres poder soviético, no tendrás electrificación. Gracias a Dios, el pueblo ucraniano ha demostrado que para vivir no necesita ni lo uno ni lo otro.

Foto: Gérard Wormser.

Deber de memoria

Europa es el continente con más restos de pasado y con la memoria procesada más grande. La cultura, de la que el continente tanto se enorgullece, es esencialmente el procesamiento de la memoria, incluida la memoria de nuestra culpa, la historia de la infamia, como diría Borges. Desde las primeras pinturas rupestres, pasando por la Ilíada y la Odisea de Homero o los Trabajos y días de Hesíodo (preservando y repasando la historia con un hexámetro fácil de recordar), desde Cortés hasta testimonios sobre el nazismo y la Segunda Guerra Mundial. La memoria y la cultura forman parte del sistema inmunitario de Europa. Deben reconocer y desarmar los virus de la ceguera colectiva, la pérdida de razón, la locura nacionalista y el nacimiento de nuevos dictadores.

Esta guerra ha estallado justo cuando aquellos que portan la memoria de la Segunda Guerra Mundial ya no están con nosotros. Estamos exactamente en este precipicio generacional en el que las últimas personas que mantenían esa memoria viva, los últimos prisioneros de los campos de concentración, los últimos soldados que lucharon en aquellas trincheras, nos están dejando. Sólo espero que no nos dirijamos hacia una especie de Alzheimer colectivo.

La memoria es maleable, tiene que entrenarse cada día; debemos contar historias constantemente para que estas se recuerden, porque cuando la llama de la memoria se apaga, las bestias del pasado estrechan su círculo alrededor de nosotros. Cuanta menos memoria, más pasado. Recordamos para mantener a raya el pasado.

Pero aquí me gustaría desviarme un poco. Ya no se trata de una mera cuestión de memoria, sino también de qué recordamos y cómo. Porque el populismo y el nacionalismo también crean su propia visión de la memoria. Una memoria procesada de nuevo que sirve para cualquier situación, bidimensional, como los ajustes de un juego. Dime qué memoria necesitas y te la daremos. En Rusia nunca llevaron a cabo el arduo trabajo sobre la memoria de la Segunda Guerra Mundial que sí hicieron, por ejemplo, en Alemania. El doloroso trabajo que penetra en todas las capas de la sociedad, se cuela en las instituciones, escuelas y libros de texto.

No se juzga a los ganadores, pero hay cosas que se pudieron criticar y condenar. La ausencia de este trabajo de memoria – de un cierto remordimiento sobre lo que hizo el ejército ruso a los civiles de las naciones conquistadas, sobre órdenes militares que a menudo ni siquiera tenían en cuenta la vida de sus propios soldados, sobre la paranoia que envió a prisioneros de guerra rusos directamente desde los campos de Hitler a Siberia, y mucho más – hace que el país mantenga un estatus de víctima. Un estatus y una coartada para nuevos sacrificios que cree que se merece.

Uno de los aspectos más perturbadores de todo esto es la desaparición de la frontera entre la verdad y la mentira; el intento de obligarnos a entrar en un mundo donde nada importa, todo está permitido, cada mentira puede disfrazarse de verdad, cada conspiración puede vencer a la razón. Esta es una mentira que no sólo reescribe el pasado, sino que también predetermina el futuro. Para ser más claro, se basa en un pasado reescrito para justificar las agresiones e infamias del presente.

Aquí entran el análisis y la conversación. Aquí necesitan entrar. El lenguaje hoy es distinto, y debemos darnos cuenta de ello. La manera de contar historias es diferente, ya no se hace a través de números, párrafos y proyectos, sino a través de la persona y de sus miedos, su soledad, su confusión y sus esperanzas.

Foto: Gérard Wormser.

¿Dónde queda Bulgaria en todo esto? En la periferia de la guerra, si es que la guerra actual tiene un frente y una periferia. En lo que a distancia y geografía respecta, estamos muy cerca, entre 500 y 700 km. (Odesa está a 721 km a vuelo de pájaro). Pero obviando el sistema de medida del tiempo y el pasado, estamos más cerca aún. El pollo no es un pájaro y Bulgaria no es el extranjero, como dice el dicho soviético, y en 1962 Bulgaria renunció vergonzosamente a su soberanía para convertirse en la decimosexta república de la URSS. La conexión ruso-búlgara impuesta por la historia se usó muy inteligentemente para la propaganda, por supuesto.

Durante toda mi infancia y juventud aprendí en la escuela que Rusia era como un hermano mayor para nosotros y que nos era imposible avanzar sin él – como buen hermano mayor, podía defendernos de los abusones del barrio que nos acosaban. Aún recuerdo de memoria aquella cita del héroe de los juicios de Leipzig y primer dictador comunista de Bulgaria, Gueorgui Dimitrov (quien también era, por cierto, ciudadano soviético): “Nuestra amistad con la Unión Soviética es tan vital y necesaria como el sol y el aire para cualquier ser vivo”.

Evidentemente, toda mi generación soñaba en secreto con otros países, tierras extranjeras y deseadas al oeste de Bulgaria. Eso ya era una pequeña victoria- la URSS nunca fue una destinación soñada, a pesar de la propaganda. Al contrario, fue una tierra de fascinación, con sus consecuencias sobre la situación actual.

Aquí, la propaganda pro rusa campa a sus anchas, a muchos niveles. Está detrás de nuestro sentimiento de gratitud hacia quien fue dos veces nuestro libertador (aunque también dos veces nuestro opresor), pasando por nuestra adoración de la cultura rusa (como si Putin y Chejov fueran hermanos gemelos), y por declaraciones de políticos en primera línea que se niegan a tomar partido por las víctimas de forma clara. Todo esto no puede sino dividir a la sociedad.

Según una encuesta del Eurobarómetro de mayo de 2022 para todos los miembros de la UE, los búlgaros son quienes están más cerca de la posición rusa respecto a la guerra. Se ha podido observar un gran aumento de la propaganda rusa en el país, que, de hecho, ocupa el último puesto respecto a la educación en los medios, presenta la tasa de vacunación más baja de Europa y tiene la tasa de mortalidad por COVID-19 por habitante más elevada del continente. Todos estos elementos están obviamente relacionados. Esta conexión ha quedado repentinamente expuesta con el comienzo de la guerra: quienes más se oponían a la vacuna resultaron ser los partidarios más fervientes de Putin.

Facebook sigue siendo la red social más influyente del país: allí tiene lugar el 90% de la actividad en Internet. Sin embargo, la propaganda también ha gangrenado los medios oficiales y “serios”. Muchos de ellos crean contenido basado en posts de Facebook, que vuelven a publicar sin crítica o comentario alguno. Además, Facebook resulta ser un auténtico laboratorio de discursos de odio, los cuales se propagan fácilmente por los medios oficiales. Recientemente, un simpatizante del partido nacionalista Vuzrazhdane (Renacimiento), invitado de un programa de televisión serio, declaró que la única crítica que tenía hacia Putin era que su intento de blitzkrieg en Ucrania había sido un fracaso.

La sociedad está ferozmente dividida. No recuerdo que Bulgaria haya vivido una polarización así, además agravada por las redes sociales y ciertos personajes públicos, desde hace décadas. Quizás esto pueda parecer duro, pero tengo que reconocerlo: a veces tengo la impresión de estar viviendo los comienzos de una silenciosa guerra civil.

Abrirse a la periferia

Esta parte de Europa no ha estado en el centro de la historia desde 1989. Sin embargo, a través de la literatura, nunca ha dejado de contarse y de ponerse en guardia contra lo que ocurrió en el pasado y podría ahora ocurrir de nuevo. Creo que estos relatos no se han escuchado lo suficiente. Sentimos claramente que la historia aún no ha terminado. Lo sabemos y, por tanto, podemos expresarlo así: hasta que la última herida de la historia de nuestro continente no haya cicatrizado, todo el continente seguirá sangrando. Nadie, sin importar lo lejos o lo despistado que pueda estar, podrá dormir tranquilo. Nos hemos dado cuenta de que el centro de Europa no es un punto fijo entre Berlín y París. El centro de Europa es un punto sensible en constante movimiento, es donde duele, es donde sangra: hoy está en el este, en la orgullosa Ucrania.

En uno de los ensayos más bonitos sobre Europa, Un Occidente secuestrado, escrito en 1983, durante la Guerra Fría, el escritor checo Milan Kundera inicia su relato con el último telegrama desesperado que envía el director de la agencia húngara de prensa en 1956, con su edificio bajo fuego de artillería. El mensaje decía: “Morimos por Hungría y por Europa”. Quería transmitir algo durante aquellos instantes decisivos: la invasión de Hungría por el ejército ruso era la invasión de Europa. No esperéis, actuad. ¿Entendió Europa (u Occidente en esa época) el mensaje? ¿Lo entiende mejor Occidente ahora que se enfrenta a la invasión de Ucrania?

Gracias a Dios, esta vez sabemos por quién doblan las campanas. Los europeos lo han entendido en seguida. El ensayo de Kundera termina con esta amarga conclusión: tras la Segunda Guerra Mundial, Occidente se ha alejado de Europa Central, esta última bajo la influencia de la URSS, considerándola como un mero satélite del imperio soviético, sin identidad propia. Esta inercia – me atrevería a decir – ha continuado en cierto modo después de 1989. La guerra en Ucrania ha devuelto realmente a Europa Central y Oriental a Europa.

¿Supera la periferia al centro en algún aspecto? Sin duda, tiene una sensibilidad más desarrollada hacia lo inminente. La capacidad de oler el peligro. La antigua Europa del Este ha aprendido a sentirlo en sus propias carnes. Por eso me atrevo a decir lo siguiente: no subestiméis los libros, los ensayos o los poemas de esa parte de Europa. Descifrad sus símbolos.

Las palabras no paran a los tanques ni tumban a los drones, pero pueden (¿de verdad pueden?) parar, retrasar o, al menos, hacer dudar a aquellos que manejan dichos tanques y participan en una guerra contra inocentes. Al menos por un instante. Las palabras pueden ayudar a quienes están engañados por las noticias falsas y la propaganda. El hecho de que los horrores de la Segunda Guerra Mundial no se hayan repetido podría deberse, al menos en parte, al trabajo de memoria de los testigos, los escritores y los filósofos.

Esta guerra no terminará cuando se dispare la última bala. Empezó mucho antes del primer disparo y seguramente acabará mucho después del último. Este es el nuevo frente de la vieja propaganda, hoy más fuerte que nunca. Y he aquí el papel de un medio lento pero duradero como la literatura: enseñarnos, como mínimo, la resistencia, la empatía, darnos las herramientas para discernir lo verdadero de lo falso. Alejar las historias de cada uno del epicentro del dolor, construir una memoria que no será mancillada, y, mientras sea necesario, consolarnos.

Ningún tipo de propaganda debe valer más que la memoria de un niño pequeño que huye de la guerra con un número de teléfono garabateado en su brazo.

Este texto es la transcripción del discurso pronunciado en el evento Debates sobre Europa en Sofía, el 26 de febrero de 2023. © Debates on Europe 2023.

Traducido por Javier Herrero González

Créditos foto de portada: Phelia Baruh

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