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Primeiro de Abril – Brasil, piada pronta
Junia Barreto

Primeiro de Abril – Brasil, piada pronta é um video realizado por Junia Barreto com pinturas de Marcia Tiburi e música de Chico Buarque de Hollanda. Trata-se de uma video-exposição que provoca os espectadores a rememorar e refletir sobre o Golpe Civil-Militar de 1964 e a ditadura que se estendeu no Brasil por mais de 20 anos.

No momento do lançamento do vídeo, Jair Bolsonaro, ex-presidente autoritário que alcançou o poder por meio de atos ilícitos, obteve na justiça o direito de celebrar publicamente a ditadura militar.

A ditadura militar no Brasil durou de 1o de abril de 1964 até 15 de março de 1985. Sendo o dia 1o de abril o dia mundial da mentira, tornava-se inconveniente inaugurar o regime militar naquela data, sob o risco de ele parecer uma piada. Assim, construiu-se a narrativa de que o dia 31 de março seria a data oficial do começo do regime, que os militares e seus simpatizantes chamavam de “Revolução”, alterando o sentido dos acontecimentos e do próprio termo.

O smartvideo tem caráter artístico-político e foi produzido majoritariamente a partir de imagens feitas com um smartphone, pretendendo ser uma contribuição à referida “comemoração” da ditadura, num tom que acompanha a lógica do dia da mentira, em que a farsa e a falsidade tornam-se motivo de brincadeira em todo o mundo.

Primeiro de Abril – Brasil, piada pronta foi apresentado em escala nacional e internacional nos dias 31 de março e 1o de abril de 2021, através de diferentes veículos de comunicação. Tal criação, que também se acompanha de um Manifesto da artista publicado pelas Revistas Cult e Sens Public, se insere no projeto de artes e ideias, Olhos Abertos. Ela foi apresentada ao tempo em que o presidente elogia o período autoritário, generais criminosos e torturadores, além de desdenhar da morte de mais de 700 mil brasileiros e brasileiras devido à pandemia de Covid19. O ex-presidente é acusado de genocídio em seu próprio país e vem sendo denunciado em tribunais internacionais por promover a dizimação de povos indígenas e a população em geral, devido à má gestão da pandemia, marcada por desinformação e todo tipo de ações negligentes e irresponsáveis.

Marcia Tiburi, autora das pinturas e uma das idealizadoras do projeto Olhos abertos em parceria com Junia Barreto, nasceu em 1970, em plena Ditadura Militar, e considera que a ditadura — em relação à qual o Brasil nunca fez justiça — é um arcabouço psicopolítico, no qual se afogam a mentalidade e a sensibilidade da nação brasileira, capturadas por um defensor da tortura e do autoritarismo.

No vídeo, retratos grotescos inspirados nos ‘presidentes generais’ do período ditatorial brasileiro são instalados em um cenário burguês clássico. A estética bourgeoise serve de pano de fundo para o desfile militar de seis obras-retrato inspiradas em tais personagens infames da história brasileira e seus três personagens coadjuvantes, provocando a reflexão dos espectadores, ao som da música de Chico Buarque de Hollanda, “Deus lhe Pague”, brilhantemente inserida no contexto histórico de 1971.

    Ficha técnica:

  • Pinturas: Márcia Tiburi
  • Música: Chico Buarque
  • Projeto « Olhos abertos »: Junia Barreto et Márcia Tiburi
  • Realização: Junia Barreto
  • Montagem: Telmo Fadul
  • Redes sociais: Amanda Massuela et Walmir Gois
  • Tradução: Gérard Wormser, Luiz Capelo et Matheus Ferrari
  • Comunicação: Aline Perez et Fernanda Paixão
  • Produção: Sens Public e Revista Cult

Pinturas. Artista: Márcia Tiburi

    Obras:

  • General Asino, 1964-1967 [da série “Soberanos Infames”], 2021.
    Acrílico sobre papel, 36X48cm
  • General Anal, 1967-1969 [da série “Soberanos Infames”], 2021
    Acrílico sobre papel, 36X48cm
  • Generais falocêntricos 08-11/1969 [da série “Soberanos Infames”], 2021
    Acrílico sobre papel, 41X36cm
  • General Varonil, 1969-1974 [da série “Soberanos Infames”], 2021
    Acrílico sobre papel, 36X48cm
  • General Cloacal, 1974-1979 [da série “Soberanos Infames”], 2021
    Acrílico sobre papel, 36X48cm
  • General Equino, 1979-1985 [da série “Soberanos Infames”], 2021
    Acrílico sobre papel, 36X48cm
  • Ubu Rei Brasileiro, 2019- [da série “Soberanos Infames”], 2021
    Acrílico sobre papel, 36X48cm

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